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Analisando letra: Teatro dos Vampiros - Legião Urbana


Aos caros leitores Rebobinantes, olá. Beleza galera? Bom pessoal, já disse aqui varias vezes o quanto aprecio esse tópico do Rebobinando, “Analisando letra”, é a menina dos meus olhos aqui no blog. Por isso me dedico ao máximo sempre que vou elaborar um post sobre o tema. Faço pesquisas profundas e minuciosas, busco fatos concretos, que me afirmem que estou na direção certa e só posto depois de estar satisfeito e seguro das conclusões as quais cheguei. Claro que não sou dono da razão e nem sempre acerto em tudo, mas pelos comentários que tenho visto aqui, acho que tenho mais acertado que errado. E pro recalque passar longe, “Bejin no ombro” (frase da pensadora contemporânea Valesca Popozuda )  - risos, muitos risos.

Antes de começarmos essa analise, vamos a alguns fatos: 


O título da música, além de ser "sobre a TV" ou pelo menos, era pra ser sobre a TV, mas se tornou algo muito maior, principalmente devido à situação do país na época, faz também uma referência ao "Teatro dos Vampiros" descrito originalmente no livro "Entrevista com o Vampiro", publicado em 1976 pela escritora estadunidense Anne Rice. O livro inaugura a saga "Crônicas Vampirescas", nome dado à série de livros sobre as personagens-vampiro criadas por Rice ( lembrando que esse livro, deu origem ao filme "Entrevista com o Vampiro" lançado em 1994). No livro, o "Teatro dos Vampiros" é um teatro parisiense onde, vejam só! Atuam vampiros.

O irônico neste teatro é de que nele os vampiros fingiam ser atores que fingiam ser vampiros, ante uma platéia que aparentemente nunca desconfiou de nada. Talvez essa encenação da encenação tenha sido mais um dos motivos para a escolha do título da música por Renato Russo, considerando-se a situação política brasileira à época em que o disco V foi produzido pela Legião Urbana, cuja conseqüência na vida da população se reflete na letra de "O Teatro dos Vampiros".

E ai você pergunta:
- Tá, mas... se era pra ser sobre a TV, onde a TV entra nessa história, se o livro fala de teatro?
Ok, ok, vamos lá... No "Acústico MTV" gravado em 1992, Renato Russo da a seguinte declaração: 
(Renato Russo ) ...Era na época daquela novela [Vamp], que estava fazendo sucesso - acho que ainda está fazendo sucesso, porque eles alongaram. Tem essa crise do país, e tudo. Então, a gente fez a música. Essa foi a primeira letra. Bonfá fez a música, eu fiz a letra, e a gente juntou tudo. E era para ser sobre a TV. (1992) 


E diz mais em entrevista ao Jornal Estado de São Paulo - 16/12/95 
(Renato Russo ) "...Tem coisas que são da mesma linha. Baader-Meinhof Blues no primeiro; no segundo tem Fábrica, ou mesmo Índios; no terceiro tem Que País É Este e Mais do Mesmo; no quarto tem Há Tempos; no quinto tem O Teatro dos Vampiros, que é mais suavezinha, mas é a mesma coisa; e, agora, em Descobrimento do Brasil, você tem Perfeição. Eu gostaria de acreditar que são músicas completamente diferentes, mas se você parar para pensar, a gente está falando da mesma coisa."
O Teatro dos Vampiros (ou apenas Teatro dos Vampiros), é apresentada no quinto álbum da Legião Urbana, V, em 1991. De acordo com a Hot100Brasil, O Teatro dos Vampiros foi o 27º maior hit no ano de 1991, foi eleita pelos leitores da revista Bizz a melhor música da quela época.

Conclusões:
Embora muitos não concordem a canção fala exatamente sobre os problemas vividos naquela época, e sobre as dificuldades de um jovem que entrava na fase adulta e tentava se posicionar ante aquela sociedade, era pra ser uma musica sobre a TV, mas não foi assim ( Palavras do próprio Renato ) pois ele diz... era pra ser sobre a TV ( era ) e não ( é sobre a TV ). Talvez a novela VAMP a qual ele se refere na entrevista tenha servido apenas de gancho para o que a musica se tornou, assim como o livro "Entrevista com o Vampiro" . 
“Teatro dos Vampiros” é uma analogia usada por Renato Russo para denominar nosso Congresso Nacional, cujos representantes não passam de atores representando o papel de defensores do povo, tal qual em um Teatro, mas na realidade não passam de sugadores (Vampiros), que sugam até nosso ultimo centavo. Essa musica segue a mesma linha de Índios, Que país é Este, Perfeição e outras, como ele mesmo diz, essas musicas falam da mesma coisa, os problemas da nação e os conflitos pessoais e internos vividos por um determinado individuo. VOCÊ PODE PERCEBER ISSO NAS ENTREVISTAS POSTADAS A CIMA, ONDE O PRÓPRIO RENATO DA AS DECLARAÇÕES.
E depois dessa breve explanação, vamos a analise.

Teatro Dos Vampiros
Legião Urbana

Sempre precisei de um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto
E destes dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos.

Logo nesta primeira estrofe, o eu lírico da canção se define, vemos a imagem de alguém tímido, introvertido, solitário e que necessita de atenção, alguém que ainda não sabe o que quer, quem é e pra que veio, mas que tem uma posição definida em relação a tudo que é errado, a tudo que desaprova, a tudo que não gosta, um jovem ingressando na vida adulta. Os dias eram estranhos, a esperança de que a democracia traria mudanças significativas no país, não se concretizaram. Algo de muito errado estava acontecendo, enquanto que o governo tentava alimentar o clima de esperança, maquiando os problemas do país, como a sujeira que é jogada para debaixo do tapete, a poeira que é jogada pelos cantos, apresentando soluções e planos para acabar com a crise. Era o ano  do trigésimo segundo Presidente do Brasil, Fernando Collor de Melo.

Fernando Collor de Mello assumiu a Presidência da República em 1990, época em que o Brasil vivia com inflação beirando os 80% ao mês. Com a justificativa de tentar frear a alta dos preços foi divulgado em 16 de março de 1990, um dia após a posse do novo governo, pela então ministra da economia Zélia Cardoso de Mello, o Plano Brasil Novo, popularmente conhecido como Plano Collor.

"Esse é o nosso mundo:
O que é demais nunca é o bastante
E a primeira vez é sempre a última chance.
Ninguém vê onde chegamos:
Os assassinos estão livres, nós não estamos."

Aqui, o eu lírico da canção nos apresenta seu mundo, sua época, e sua indignação.  Ele diz, esse é o nosso mundo, onde quem tem, sempre quer mais, onde poucos detém o poder e a riqueza enquanto a maioria passa fome. O que é de mais nunca é o bastantes, quanto mais eles tem, mas eles querem. E a ideia de esperança perdida, fica clara no verso "E a primeira vez é sempre a última chance", cada chance é única, nenhuma oportunidade é igual a outra e nem tem o mesmo resultado. O eu lírico, lamenta a chance que se perdeu, chance de mudança real, chance de transformar o país de fato. Ninguém parecia perceber a que ponto se chegou, o grito de liberdade e igualdade de outrora não ecoava mais. Os maus, estavam impunes, agindo livremente, os assassinos da democracia, os corruptos estavam livres, enquanto o povo estava preso a um sistema que não visava o seu bem ( não é muito diferente de hoje né? ).

"Vamos sair, mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão procurando emprego
Voltamos a viver como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas."

Já nesta estrofe, ele nos apresenta sua situação, a crise afetava a todos de uma tal forma, que não se tinha nem mais o dinheiro para as festinhas e zoeiras costumeiras, fruto das mesadinhas do fim do mês. O que os obrigava a procurar emprego. E parecia se viver como a dez anos atrás, muito provavelmente aqui ele se refere à chamada "Década Perdida" de 1980. Período em que o País teve crescimento econômico insignificante enquanto os índices de inflação eram bastante elevados. E aqueles dias, lhes pesava como anos, como algo interminável.

Vamos lá, tudo bem - eu só quero me divertir.
Esquecer, dessa noite ter um lugar legal pra ir...
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia
Nossas vidas possam se encontrar.


Aqui, o eu lírico que fala, dialoga com alguém, ou com mais de uma pessoa, ele nos passa a ideia de seus desejos e anseios, a vontade de se viver uma vida normal, sem preocupações, de poder simplesmente sair e esquecer de tudo. O convencimento de que tudo estava perdido fica claro no verso "Já entregamos o alvo e a artilharia", a sensação de impotência diante da situação fica no ar. Já entregamos o alvo... ( a desistência do sonho de mudança  ) ...e a artilharia ( se perdeu a vontade de lutar ). Mas a esperança não morreu, ainda se espera por dias melhores. Nos três últimos versos, ele nos da a ideia do pensamento coletivo, de um desejo comum a todos. Talvez aqui, ele converse com seus companheiros de luta, amigos que compartilhavam do mesmo ideal e pensamento, e que  agora seguiam seus caminhos. ( Isso é bem tipico da fase adulta, agente amadurece e muitos dos amigos seguem seus caminhos e o contato já não é tão constante e em breves encontros, comparamos nossas vidas, conversamos sobre nossos êxitos e frustrações e fica sempre aquele desejo de podermos viver bons momentos juntos novamente)

Quando me vi tendo de viver comigo apenas
E com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei
Não sou perfeito

Em toda canção, o eu lírico que nos fala,  passa a ideia de que,  apesar de suas convicções, posição e esclarecimento em relação aos problemas do país, é alguém que ainda não se encontrou como pessoa, alguém com graves conflitos, problemas internos e pessoais. Nessa estrofe, fica claro isso, o individuo agora adulto, tendo que assumir suas responsabilidades e ainda cheio de medos e inseguras. Ele se vê agora sozinho tendo que responder por seus próprios atos e escolhas, tendo que encarar um mundo de preconceitos e injustiças.  

Sabemos que em muito, as musicas de Renato, falam de sua própria vida. Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo, nasceu em 1989, dois anos antes do disco V ser lançado. Os versos "Quando me vi tendo de viver comigo apenas e com o mundo, você me veio como um sonho bom. E me assustei. Não sou perfeito." provavelmente foram inspirados pela chegada de Giuliano.  Agora o eu lírico se vê com a alegria da chega do filho e se assusta, pois grande é a responsabilidade de ser pai, e ainda se julga não ser perfeito para tal feito.

Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo, eu, homem feito
Tive medo e não consegui dormir

Já aqui, o eu lírico exalta valores humanos, o que aprendeu e não esquece, como honestidade, ética, afetividade, amor, justiça e outros, que pra ele são riquezas, mas que ninguém consegue enxergar, perceber.  E hoje já homem feito, percebe que nada mudou, as pessoas continuam egoístas, mesquinhas, individualistas, insensíveis, preconceituosas e intolerantes. E isso lhe da medo, o perturba ao ponto de perder o sono.

Vamos sair, mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão procurando emprego
Voltamos a viver como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas

Vamos lá, tudo bem - eu só quero me divertir
Esquecer, dessa noite ter um lugar legal pra ir
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas

E mesmo assim não tenho pena de ninguém


Aqui os versos se repetem, e no final nos deixa a ideia de que mesmo com todas as preocupações que nutre em relação ao país e ao ser humano, que mesmo se sensibilizando com tudo que acontece ao seu redor, não tem pena de ninguém, pois cada um é responsável por seus atos.

Gosto? Curti ai

É isso meu povo, até a próxima e fiquem com a canção abaixo.



Fonte de pesquisa, pelo menos a que mais me forneceu informação  ( Lago da Memoria )

10 Comentários:

Elaine Regina rebobinou e disse...

Olha, menino... Análise FANTÁSTICA! Muito boa! Parabéns pela qualidade do que tem escrito aqui. Pelo seu esforço e compromisso com os leitores.


Beijo!

Eduardo Montanari rebobinou e disse...

Difícil pra mim analisar qualquer letra da nacionalmente famosa banda Legião Urbana, pois sou fã de carteirinha deles, desde que era apenas um efebo e para mim, Renato Russo era um poeta, um pensador. É como ele mesmo diz em uma de suas músicas: "Os bons morrem jovens".

Anônimo rebobinou e disse...

Material bom...parabéns!

Anônimo rebobinou e disse...

Meus nomes são LUIS FERAGO.

Estou aqui para dar o meu testemunho de como me tornei um tempo vampire.Long atrás, um amigo meu me disse que vampiros são reais e eu duvidava que em primeiro lugar, não até que ela me confessou que ela é uma das them.She me disse que a razão pela qual ela teve que se tornou um vampiro, no começo eu estava com medo dela, mas depois ela me fez entender que eu preciso não ter medo e que se tornar um vampiro só vai me fazer viver mais tempo do que o esperado, se tornar famoso e ser capaz para lutar contra todos os meus inimigos que eu mais tarde concordou em se tornar, eu nunca pensei que era real não até recentemente.

Tenho muito orgulho de ser um deles agora, eu não tenho nenhuma razão para ter medo de dar o meu testemunho para o caso world.In você estiver interessado, basta contactar o e-mail abaixo.

Email: vampiretransformationgroup@gmail.com

Anônimo rebobinou e disse...

sempre em frente ,,,que atras vem gente,apesar de ,,,,

Anônimo rebobinou e disse...

sempre em frente,,,,,,apesar e ,,,,,

Unknown rebobinou e disse...

Primeira vez q visito a página e adorei... Parabéns!

Ane Alencar rebobinou e disse...

Boa análise!!!

João rebobinou e disse...

legião interpretava muito bem os problemas sociais do Brasil em geral,como um político vai se sensibilizar com os problemas do país se leis são pra beneficiar a corrupção o roubo a desigualdade etc....

João rebobinou e disse...

legião escancarava os problemas sociais do nosso país se Renato Russo estivesse vivo muita gente ia ta lascado bem antes da lava jato,como cobrar de um país que as leis são feitas pra roubar,matar e a desigualdade imperar!!!

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